domingo, 2 de julho de 2017

OS OPERACIONAIS da ARA

Inicio do levantamento da A.R.A.: 1964

Rogério de Carvalho + Raimundo Narciso
Rogério de Carvalho (1920-1999. Foto de 1988) é membro do Comité Central do PCP de 1963 a 1988. Em 1964, na clandestinidade, assume a responsabilidade de dirigir o levantamento da organização das «acções especiais» que veio a ser a ARA. Depois de frequentar em 1965 (Janeiro-Maio) em Havana um curso militar para o efeito regressa a Portugal em Junho de 1965 mas é novamente preso, logo em Outubro desse ano até 25-04-1974, Sofreu ao todo 15 anos de prisão.

Raimundo Narciso
Nasceu emTorres Vedras, em 1938. (Foto de 1964 ). Casado com Maria Machado. Estudante de engenharia no Instituto Superior Técnico em 1964. Serviço Militar Obrigatório, entre 1959 e 1963. Decidiu passar à clandestinidade em 1964 (até 1974) para a criação da ARA. Em Cuba, com Rogério de Carvalho, em 1965. Membro do Comité Central do PCP de 1972 a 1988. Processo de afastamento do PCP entre 1987 e 1990. Fundador do Instituto Nacional de Estudos Sociais - INES (Movimento político em 1989 e 1990) e da Plataforma de Esquerda (Associação política, 1990-1995). Gestor de empresas (1992/95 e 2000/2003). Deputado pela Plataforma de Esquerda na lista do PS, de 1995 a 1999.  Adjunto do Sec. Est Administração Interna 2009-2010. Presidente da direção do Movimento Cívico "Não Apaguem a Memória" - NAM, de 2008 a 2012 e de 2014 a 2017. Publicou 4 livros.

COMANDO CENTRAL DA ARA 1970 - 1974
Jaime Serra, Francisco Miguel e Raimundo Narciso 

Jaime Serra natural de Lisboa (1921- ... foto de 1974). Casado com Laura Serra. Começou a trabalhar aos 12 anos e foi preso pela primeira vez aos 15. Preso 3 vezes 3 vezes fugiu. Era operário no Arsenal do Alfeite aos 19 anos.
Membro da Comissão Executiva do PCP, de 1963 a 1970. É um dos mais destacados dirigentes do PCP.
Membro do Comando Central da ARA de 1970 a 74. Deputado de 1975 a 1983. Membro da Comissão Política do CC do PCP na clandestinidade e no regime democrático até 1988.
Publicou 3 livros

Francisco Miguel Duarte
Nasceu em 1908 em Baleizão distrito de Beja e faleceu em Lisboa em 1988. Solteiro. 21 anos e 6 meses de prisão, 9 dos quais no Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde). Quatro fugas da prisão, a última de Caxias, no carro blindado que fora oferecido pelo regime de Hitler a Salazar e então ao serviço da prisão de Caxias, em 4 Dezembro de 1961. Membro do CC do PCP desde o seu 2.º congresso ilegal em 1946 até 1988. Na direcção da ARA, com Raimundo Narciso, desde Outubro de 1968. Membro do Comando Central da ARA de 1970 a 74. Deputado do PCP de 1975 a 1986. (Foto de 1977)

Carlos Alberto da Silva Coutinho
Nasceu em 1943, em Fornelos, Vila Real. . Casado com Antonieta Coutinho. Arquivista em O Século em 1970. Na guerra colonial de 1966 a 69, em Moçambique. Ligação à ARA desde Julho 70. Preso de Fevereiro de 73 a 25 Abril de 74. Participou nas acções do Cunene, Escola da PIDE, Tancos, Corte das Telecomunicações – reunião da NATO, Corte da rede eléctrica em 1971 e 72. Jornalista. Obra publicada: duas novelas, dois volumes de prosa jornalística, uma dezena de peças de teatro.
Ângelo Manuel Rodrigues de Sousa
Nasceu em 1948 em Espinho e faleceu em 1990 em Lisboa. Casado com Fernanda Castro. Empregado bancário. Piloto de helicópteros. Procurado pela PIDE com fotografia na televisão, jornais e postos de todas as polícias. Clandestinidade de Março de 1971 a 25-04-74. Ligação à ARA desde Agosto 70.
Participou na Acção de Tancos 8-3-71) e do corte da rede eléctrica nacional na eleição do Presidente da República, Américo Tomás (12-8-72).
António João Eusébio
Nasceu em 1942 em Corte Gafe de Baixo, Mértola. Operário estucador da construção civil. Esteve na guerra colonial, em Angola, de 1964 a 66. Ligado à ARA desde Junho 70.
Participou nas acções do Cunene, Escola Técnica da PIDE, BA3-Tancos, Corte das Telecomunicações, Corte da Rede Eléctrica em 1971 e em 1972. Na clandestinidade de 1972 a 25-4- 1974.Funcionário do PCP até 2007.

António Pedro Ferreira
Nasceu em 1936 em Lisboa. Casado com Maria José Ferreira. Serviço militar entre 1958 e 1969. Esteve na guerra colonial, em Angola, de 1961 a 63. Ligação à ARA desde 1965. 
Participou no apoio às acções do Cunene, Cais da Fundição, Muxima, corte da rede eléctrica em 1971 e em 1972. Foi tenente do Exército. Economista. Foi Presidente da Câmara dos Despachantes. Foi fundador da Plataforma de Esquerda.

Manuel Policarpo Guerreiro
Nasceu em 1943 em Odemira. Pintor da construção civil nos anos 70. Esteve na guerra colonial em Moçambique, como furriel, de 1966 a 69. Ligação à ARA desde Julho de 1970. Participou nas acções do Cunene, assalto ao Paiol, Comiberlant 1971, corte da rede eléctrica em 1971 e em 1972. Preso de Fevereiro 1973 a 25-4-74. Empresário da construção civil em Faro e dirigente da Confederação das PME da Construção Civil.

Manuel dos Santos Guerreiro Nasceu em 1943 em Grândola. Motorista nos anos setenta. Casado com Luísa Guerreiro. Serviço Militar Obrigatório de Janeiro de 64 a Outubro de 69. Ligação à ARA desde 1971. Participou no corte da rede eléctrica em 1971 e 1972, Assalto ao Paiol, Comiberlant. Preso em Março de 1973 a 25-04-74. Empresário. Vive em Grândola.

Ramiro Rodrigues Morgado

Nasceu em 1940 em Manique do Intendente, Azambuja. Lapidador de diamantes na DIALAP (Lisboa). Serviço Militar Obrigatório em Moçambique, de 1962 a 64 onde a guerra se iniciou alguns meses antes de regressar. Ligação à ARA em Julho de 1970. Participou no Corte da Rede Eléctrica, em 1971 e em 1972 e no apoio às acções do Cunene, de Tancos, e do Muxima. Preso de Março de 1973 a 25-04-74.


Amado de Jesus Ventura da Silva
Nasceu em 1945 em Lisboa. Estudante em Coimbra, da “República dos 1000-y-Onários”. Oficial miliciano «Ranger», de 1967 a 70. Ligado à ARA desde 1971. Participou no Assalto ao Paiol, Corte da Rede Eléctrica em 1971 e em 1972. Preso de Fevereiro de 1973 a 25-4-74. Engenheiro agrónomo na Zona Agrária de Caldas da Rainha foi um dos maiores especialistas da Pera Rocha. Foi-lhe atribuída, postumamente, em 2013, a medalha de mérito municipal pela CM de Óbidos pela sua extraordinária competência profissional a par de excepcionais qualidades morais e cívicas que evidenciou na vida do município de Óbidos, tornando-se digno da consideração e reconhecimento públicos. Faleceu em 22-11-2007. 

Victor d’Almeida d’Eça


Nasceu em 1937. Faleceu em 1998. Companheiro de Margarida Correia. Funcionário do Ministério da Agricultura. Actividade na área da Defesa do Consumidor, nomeadamente em programas radiofónicos. Homem de grande cultura, fino humor e grande dedicação revolucionária. Ligação à ARA desde 1967. Participou na preparação e apoio das acções do Cunene, corte da corrente eléctrica em 1971 e 72, Central de Telecomunicações, Assalto ao Paiol e Comiberlant. 

Jorge Trigo de Sousa  
Nasceu em 1941 em Lisboa. Engenheiro civil do IST. Ligação à ARA desde 1967 como independente. Participou no assalto ao Paiol, no apoio às acções do Comiberlant e do Muxima. Esteve na guerra colonial, em Moçambique de 1972 a 74. Praticante de Judo, professor e Presidente da Federação Nacional de «Aikidô». Membro da Associação Damião de Góis, promotor e quadro do PRD na sua fase inicial. Empresário da área da restauração.
Mário Wren Abrantes da Silva
Nasceu em 1950. em Lisboa. Estudante de Agronomia e depois engenheiro silvicultor. Ligação à ARA em 1972 então sem filiação partidária. Participou no corte da Rede Eléctrica em 1972. Preso de Março de 1973 a 25-04-74. Membro do PCP a partir de 197 e depois funcionário do PCP e membro do seu Comité Central desde 1988.
José Augusto de Jesus Brandão
Nasceu em 1948. em Lisboa. Operário metalúrgico. Esteve na guerra em Moçambique de 1969 a 1971. Ligado à ARA desde 1972 como independente. Participou no reconhecimento de vários objectivos. Preso em 27-03-73. Depois de 25 de Abril de 1974 empregado da Carris e dirigente sindical. Membro da Comissão Nacional (1980-88) e da Comissão Política (1985-87) do PS. Obra publicada: cinco ensaios sobre temas de História.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Todos os comunicados da ARA

Por cada acção da ARA ou conjunto de acções simultâneas, o Comando Central emitia um comunicado que Jaime Serra, a partir de uma cabine telefónica pública, prudentemente escolhida, lia para agências internacionais, France Press, Reuter e outras sem perder tempo com a RTP, único canal de tv então existente ou qualquer outro meio de comunicação sob o controlo da PIDE. 
Foram 8 comunicados, incluindo o que anunciou a suspensão provisória da actividade da ARA, em 12 de Maio de 1973, SUSPENSÃO  e que acabou por se tornar definitiva.
As imagens não fazem parte dos comunicados 


  -------------------------1º Comunicado-------------------------


 ACÇÃO   REVOLUCIONÁRIA   ARMADA  (ARA)

-- Comunicado –

Hoje , dia 26 De Outubro, cerca das cinco horas da manhã, um comando da ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA (ARA), levou a cabo com êxito a primeira operação revolucionária armada contra o aparelho de guerra do governo fascista.


Em virtude desta acção ficou alagado e imobilizado na doca de Alcântara, em Lisboa, com grande rombo o navio CUNENE de 160.000 toneladas que é utilizado para alimentar a guerra de opressão colonial. O Comando Central da ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA declara que ao atacar a máquina de guerra que alimenta a guerra colonial não estamos contra os soldados, os sargentos e oficiais honrados, forçados a fazer uma guerra que odeiam. Estamos, sim contra a continuação desta criminosa guerra de opresso colonial que se transformou num flagelo para os povos de Angola, Guiné e Moçambique e num cancro que corrói a nação, que queima vidas e bens do povo português para servir os interesses dum punhado de monopolistas sem pátria. Estamos solidários com a justa luta libertadora dos povos coloniais.

A ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA propõe-se conduzir a sua acção revolucionária no quadro da luta geral do povo português contra a ditadura fascista e pela conquista da liberdade. Deste modo a ARA não se desliga da luta revolucionária das massas, da luta dos operários e camponeses, da luta dos estudantes e intelectuais revolucionários contra a política fascista do governo de Marcelo Caetano; antes se propõe secundá-la até à insurreição popular armada que destruirá para sempre a ditadura fascista e o poder dos monopólios e latifundiários, assim como o domínio imperialista no nosso país.
      
26 de Outubro de 1970

VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR ARMADA!

                                               O Comando Central
                                                da ACÇÃO REVOLUCIONARIA ARMADA


-------------------------2º Comunicado-------------------------

ACÇÃO  REVOLUCIONÁRIA ARMADA - ARA
COMUNICADO

No prosseguimento da sua acção revolucionária, comandos da A.R.A., numa acção conjugada, levaram a efeito com pleno êxito, na madrugada do dia 20 de Novembro, três operações distintas: - destruição parcial da Escola Técnica da odiosa PIDE/DGS, principal instrumento de repressão fascista do Governo de Marcelo Caetano, destruição de importantes quantidades de equipamento e material de guerra armazenados no cais privativo da C.N.N. prontos para o embarque no navio NIASSA para alimentar a guerra colonial, destruição no "Centro Cultural" da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, centro da propaganda ideológica do imperialismo americano no nosso país.


O Comando Central da A.R.A. salienta que, dados os processos técnicos utilizados, qualquer destas acções revolucionárias poderiam ter tido lugar a qualquer hora do dia sacrificando contudo um maior efeito espectacular de tais acções houve a preocupação de na medida do possível evitar inúteis perdas de vidas. A despeito desta preocupação e não podendo garantir em absoluto que em futuras acções revolucionárias não se venham a verificar acidentes mais graves que os verificados até agora, a ACÇÃO  REVOLUCIONÁRIA ARMADA responsabiliza desde já por tal eventualidade o Governo de M. Caetano devido ao prosseguimento da sua politica antinacional de terrorismo politico de guerra colonial e de sujeição ao imperialismo estrangeiro.

Não podendo já silenciar por mais tempo a existência e a acção da A.R.A. o governo, pela boca do seu porta-voz da PIDE/DGS, procurou deturpar o significado e importância política da sua acção, classificando os membros da A.R.A. de "terroristas” de "maoistas", etc. A ACÇÃO  REVOLUCIONÁRIA ARMADA fiel aos propósitos definidos, no seu Comunicado de 26 de Outubro último, prosseguirá ao lado do povo e demais forças antifascistas, a luta pelo derrubamento da ditadura fascista, contra a guerra colonial, contra o domínio imperialista no nosso país.

VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR ARMADA!

21 de Novembro do 1970
O Comando Central
da ACÇÃO  REVOLUCIONÁRIA ARMADA


-------------------------3º Comunicado-------------------------

ACÇÃO  REVOLUCIONÁRIA ARMADA - ARA

- COMUNICADO -

Um Comando militar da Acção Revolucionária Armada levou a efeito, com pleno êxito, na madrugada do dia 8 de Março, uma importante e complexa acção contra o aparelho militar da guerra colonial. Este Comando penetrou audaciosamente no hangar principal da Base Aérea nº 3, em Tancos, destruindo completamente, com cargas explosivas, toda a frota de helicópteros militares estacionados nesta base militar, assim como vários aviões de treino. Foram destruídos nomeadamente: 1 helicóptero gigante SA-330; 12 helicópteros Allouette-3 (grandes); 1 helicóptero Allouette-2 (pequeno); 3 aviões Dornier-3 e diversos outros aviões. O êxito desta operação é reforçado pelo, facto dela se ter realizado sem baixas do nosso lado e sem acidentes entre o numeroso pessoal da Base.

A Base Aérea nº 3, juntamente com a Escola de Paraquedistas e a Escola Prática de Engenharia, todas situadas em Tancos, constituem presentemente o maior complexo militar que a partir de Portugal alimenta a vergonhosa guerra colonial que os fascistas e colonialistas portugueses conduzem, em oposição aos interesses do povo português, contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique que lutam pela sua independência. O COMANDO CENTRAL DA A.R.A., ao mesmo tempo que põe em relevo a grande prova de coragem e espírito de sacrifício dada pelos camaradas componentes do Comando que executou esta operação, salienta que para o seu êxito contribuiu decisivamente o sentimento anticolonialista cada vez mais predominante entre os soldados portugueses, filhos do povo fardados.

ABAIXO A GUERRA COLONIAL
VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR ARMADA

8 de Março de 1971
O COMANDO CENTRAL DA A.R.A.

-------------------------4º Comunicado-------------------------

ACÇÃO REVOLUCCIONÁRIA ARMADA


- COMUNICADO-
1. Interpretando o sentimento geral de indignação do povo português contra a reunião da NATO em Lisboa, a Acção Revolucionária Armada, como protesto procedeu na madrugada do dia 3 de Junho,  ao corte total das comunicações radio-telegráficas e telefónicas de Portugal com o resto do mundo, assim como de Lisboa com as diversos pontos do país. O corte parcial da energia eléctrica à cidade de Lisboa, efectuado também no mesmo dia e que afectou particularmente a zona do palácio da Ajuda, local da Reunião da NATO, integra-se igualmente na acção de protesto contra esta reunião.


2. Na execução destas operações, comandos da A-R.A., em múltiplas acções simultâneas, desafiando audaciosamente a vigilância policial fascista, colocaram, sucessivamente, fortes cargas explosivas num ponto vital da Central Telefónica e Telegráfica situada no coração de Lisboa, o qual ficou destruído, assim como junto de um certo número de torres metálicas de alta tensão eléctrica, nos arredores de Lisboa, tendo derrubado uma delas.
Em consequência destas acções, da grande repercussão nacional e internacional, reinou durante horas a maior confusão e desorientação nos meios afectos à reunião da NATO, assim como entre as autoridades fascistas. Todos os serviços da reunião foram seriamente afectados.

3. A Reunião do Conselho Ministerial da NATO, em Lisboa, além duma manifestação belicista e imperialista, presta cobertura e apoio moral e político ao governo fascista e colonialista da M.. Caetano traduzindo-se, por isso, numa provocação e num insulto ao povo português, privado há longos anos das mais elementares liberdades democráticas, dessas mesmas liberdades que a NATO afirma demagogicamente ter por objectivo defender. Para os povos das colónias de Angola, Guiné e Moçambique que lutam de armas na mão pela sua liberdade e independência, a reunião da NATO em Lisboa representa a confirmação do apoio militar e político desse Bloco agressivo à odiosa guerra colonial de que são vítimas há mais de 10 anos, a qual dificilmente se poderia manter sem tal apoio.

4. O Comando Central da Acção Revolucionária Armada felicita todos os camaradas que tão corajosamente participaram nestas acções revolucionárias e salienta o facto delas se terem efectuado sem baixas ou acidentes entre a população.
ABAIXO A NATO !
ABAIXO O FASCISMO E O COLONIALISMO !
VIVA A REVOLUÇÃO POPULAR ARMADA !
4 de Junho de 1971
O COMANDO CENTRAL DA A.R.A.       


-------------------------5º Comunicado-------------------------

ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA
- CONUNICADO -

1. Na madrugada de 27 de Outubro de 1971, um comando da A,R.A. penetrou no recinto militar do novo Quartel General do Comando da Área Ibero -Atlântica da NATO - "Comiberlant", em Oeiras - Lisboa - e colocou audaciosamente no edifício: central uma potentíssima carga explosiva que lhe provocou uma devastadora destruição. Abriu, nomeadamente uma grande cratera no interior do edifício fez ruir paredes e uma parte do pavimento do primeiro andar, destruiu as instalações electrónicas e a grande placa frontal a toda a altura do edifício assim como toda a estrutura em vidro.

Não morreu ninguém nem houve feridos. A força da Armada de Guarda ao Quartel General saiu ilesa em virtude *da preocupação constante da A.R.A. em evitar o mais possível vitimas acidentais, o que obrigou, aliás, o comando que executou a acção a correr maiores riscos e a aceitar-se que a destruição não fosse ainda maior.
2. Levada a cabo com êxito total, dois dias antes da projectada entrega solene do Quartel General do "Comiberlant" pelo chefe de Estado e ministros fascistas ao comandante americano da NATO, esta acção da A.R.A. insere-se na sua luta contra a ditadura fascista que oprime o povo português, contra as condenadas guerras coloniais de Angola, Guiné e Moçambique contra o imperialismo , inimigo da Liberdade e da Paz e o seu instrumento mais belicoso, a NATO.
3. Face à, campanha do governo e da PIDE-DGS tendente a confundir a opinião pública nacional e internacional acerca do significado das suas acções e do pretenso êxito das vagas repressivas desencadeadas pela PIDE-DGS, o Comando Central da A.R.A. declara;
a) contrariamente ao que afirmam as várias "notas oficiosas' , até agora não foi, preso nenhum elemento dos comandos da A.R.A, nem qualquer militante da sua organização, sendo portanto completamente falsa a acusação de que os antifascistas presos pertencem à A.R.A.
Com tais falsidades a polícia pretende disfarçar o seu fracasso de não ter conseguido até ao presente atingir a A.R.A. e, ao mesmo tempo, justificar a violenta repressão contra os trabalhadores e os democratas.
b) Expressando a sua solidariedade de combate a todos os antifascistas vítimas da repressão e particularmente ao Partido Comunista Português alvo principal do terror fascista o Comando Central da A.R.A. esclarece uma vez mais que a Acção Revolucionária Armada é uma organização autónoma no quadro geral do movimento revolucionário português e como tal conduz a sua acção revolucionária.
c) Reafirmando os princípios enunciados desde o seu primeiro comunicado, princípios que nada têm a ver com terrorismo que o governo pretende imputar-lhe, a A.R.A. prosseguirá vigorosamente a sua acção revolucionária que tão grande apoio encontrou junto das massas trabalhadoras e do povo português .

ABAIXO o FASCISMO!
ABAIXO A NATO E O SEU APOIO Às GUERRAS COLONIAIS!
VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR ARMADA!
27 de Outubro de 1971
O COMANDO CENTRAL DA A.R.A.


-------------------------6º Comunicado-------------------------

ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA

--  COMUNICADO –

Na madrugada do dia 12 de Janeiro um comando da A.R.A. colocou duas potentes cargas uma explosiva e outra incendiária, num dos armazéns do cais de Alcântara em Lisboa. Em consequência da forte explosão e do incêndio que se lhe seguiu foi destruída grande quantidade de material pronto a embarcar para a guerra colonial entre o qual se encontrava importante material de guerra recém-chegado de França e destinado a unidades de caçadores paraquedistas. 
Porque o comando da A.R.A. actuou entre as 5 e as 8 horas da manhã, quando no Porto de Lisboa não há trabalhadores em actividade não houve mortos nem feridos. O comando da A.R.A. que realizou a acção não teve baixas.
A A.R.A. prosseguirá a sua acção revolucionária integrada na luta do povo português contra o fascismo e solidária com a heróica e justa luta dos povos de Angola, Guiné e Moçambique.

ABAIXO O FASCISMO E O COLONIALISMO!
VIVA A INSURREIÇÂO POPULAR ARMADA!

12 de Janeiro de 1972
O Comando Central da A.R.A.


-------------------------7º Comunicado-------------------------

ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA
- COMUNICADO-

No quadro da luta revolucionária contra a ditadura fascista, vários comandos da A.R.A. levaram a efeito na madrugada do dia 9 de Agosto, o corte de energia eléctrica à escala nacional.
Nos três centros principais do país, Lisboa, Porto e Coimbra, foram destruídas ou danificadas 20 torres metálicas das linhas de alta tensão da rede eléctrica nacional. Foram aplicadas nesta operação 80 cargas explosivas.

Esta acção da A.R.A. expressa o sentimento de indignação e o repúdio das massas populares e dos antifascistas em geral pela farsa eleitoral de 9 de Agosto em que foi mais uma vez imposto ao povo português através dum processo vergonhoso, um presidente da República que representa apenas os interesses da camarilha fascista, dos colonialistas e dos seus patrões imperialistas.
O Comando Central da A.R.A. felicita todos os camaradas que duma ou doutra forma participaram nesta operação salientando o exemplo de coragem e espirito de sacrifício de que deram provas.

VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR ARMADA1
12 de Agosto de 1972
 O Comando Central da A.R.A.


-------------------------8º Comunicado-------------------------

ACÇÃO  REVOLUCIONÁRIA ARMADA

COMUNICADO

A Acção Revolucionária Armada cuja actividade revolucionária se integra, como sempre tem afirmado, no movimento anti-fascistas anti­-colonialista e anti-imperialista, torna público o seguinte:
1. Consciente das suas responsabilidades, declara que, hoje como sempre, a sua actividade tem em conta as perspectivas da situação con creta que se atravessa e os interesses do desenvolvimento da luta popular e revolucionária, considerada na sua totalidade.
      2. Verificando que se desenvolve no pais um amplo movimento po­lítico, cujos êxitos são Importantes para o enfraquecimento da dita­dura fascista colonialista, determinou uma pausa temporária de certas acções, com vistas a facilitar que sejam aprofundadas ao máximo outras possibilidades da luta popular e antifascista. 
    3. Acompanhando atentamente o desenvolvimento da situação, o Co­mando Central da A.R.A. e todos os seus militantes continuam no seu posto procurando manter e reforçar a sua capacidade operacional de forma a poderem desferir novos golpes contra o fascismo e o colonialismo.

Maio de 1973
O Comando Central da A.R.A.



domingo, 18 de junho de 2017

Destruição de helicópteros e aviões na BA Nº3, contra a guerra colonial

Na madrugada de 8 de Março de 1971 um comando da ARA desencadeou uma operação de grande envergadura contra a logística das guerras coloniais em Angola, Guiné Bissau e Moçambique, numa acção de luta contra o fascismo-colonialismo português e de solidariedade com os povos das colónias portuguesas em luta pela sua libertação.
O comando da ARA entrou na Base Aérea nº 3, pela porta de armas e teve direito a continência, num Volkswagen que Raimundo Narciso alugara uns dias antes, em Lisboa, na Rua Eifel, como quem vem de fim de semana (era um domingo) e vai ali, com o militar da casa, ao bar beber um copo. Sorrateiramente, guiados pelo Ângelo de Sousa, os três heróicos combatentes da ARA, dirigiram-se não ao bar mas ao hangar onde estacionavam as aeronaves e colocaram 20 cargas explosivas e incendiárias em outros tantos helicópteros e aviões de treino que enchiam o hangar.
Entraram com uma chave falsa cerca da meia noite. As explosões ocorreram três horas depois, quando já estavam de regresso em Lisboa. As explosões e cargas incendiárias potenciadas pela gasolina das aeronaves provocou um devastador incêndio de tal ordem que, segundo a imprensa, a Base Aérea teve de chamar bombeiros dos outros quartéis do polígono militar de Tancos e de Santa Margarida e ainda de Tomar, Abrantes, Torres Novas, Entroncamento e Santarém. Segundo relatório secreto interno o incêndio deflagrou às 3h e 20 m e foi extinto às 6 h da manhã. 

O Comando era constituído por Ângelo de Sousa, cabo miliciano, piloto de helicópteros, da própria BA3, em Tancos,  Carlos Coutinho escritor e arquivista no jornal O Século, fardado de alferes da Força Aérea e António João Eusébio, pintor da construção civil, fardado de soldado da Força Aérea.
Não houve vítimas, nem mortes nem feridos. Foi uma acção planeada, como sempre, para não causar vítimas pessoais.
No dia 23/03/1971, a PIDE fez publicar na TV e nos jornais uma nota oficiosa com a foto de Ângelo de Sousa para tentar capturá-lo. Não conseguiu. Hoje posso dizer que o tínhamos escondido num apartamento da torre do cruzamento das avenidas de Roma e dos EUA, na imagem.


Fac-símile do relatório secreto da Secretaria de Estado da Aeronáutica, de 1971, consultado por Raimundo Narciso, na Torre do Tombo, em 1999:

O ROMBO NO CUNENE


CUNENE - o mais moderno navio da logística das guerras coloniais tinha sido comprado há menos de um ano (Dez 1969). 

O navio era "comunista", construído nos estaleiros polacos de Gdansk mas comprado a um preço maior a um intermediário porque Salazar não negociava com "o reino do mal".
Com a PIDE à perna, o comandante do Cunene, procurou ocultar a sabotagem e informou os jornais que a explosão teria resultado de um encanamento de gasóleo ou gases no porão (DN  27/10/1970). 
Um estivador citado neste mesmo artigo do DN disse que "estava a mais de 500 metros do navio. Foram dois estrondos terríveis... Fiquei sem pinga de sangue e ainda estava a tremer quando o segundo estrondo ribombou que nem um trovão"

A imagem é uma fotocópia de fotografia obtida por Raimundo Narciso no Arquivo da PIDE, na Torre do Tombo, incluída no seu livro «Acção Revolucionária Armada - A.R.A. » (Editorial. D. Quixote 2000). Mostra um membro da tripulação do navio dentro do porão arrombado e com água pela cintura.
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A Maria Machado perita no uso da impressão e da serigrafia com material caseiro e artesanal organizava a divulgação das acções da ARA, imprimindo comunicados e postais ilustrados como o que aqui se vê e que ficou como um "ex-libris" da primeira acção da ARA, a sabotagem do Cunene.

As 2 cargas explosivas usadas na sabotagem do Cunene - tinham este aspecto e eram constituídas por uma lata usada de gasóleo de 20 litros na qual se soldaram três braços metálicos, cada com 3 podero-síssimos ímanes para a fixar à chapa de aço do navio, um pouco abaixo da linha de água, para tornar mais eficaz a explosão. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

A ORIGEM DA ARA

A Acção revolucionária Armada - ARA surgiu publicamente, em Outubro de 1970, com a publicação de um comunicado em que reivindicava a sua primeira acção armada, em 26 deste mês, contra o navio Cunene, o mais moderno navio de transporte utilizado na logística das guerras coloniais de Portugal em Angola, Moçambique e Guiné (Bissau,) e suspendeu a luta armada em 1 de Maio de 1973. 

A Acção Revolucionária Armada - ARA - foi criada pelo Partido Comunista Português com o objectivo de lutar contra as guerras coloniais desencadeadas por Portugal e impulsionar a luta pelo derrubamento da ditadura fascista portuguesa implantada em 1926. 

O levantamento da organização iniciou-se em 1964, com acções de carácter logístico, recolha de explosivos, armas e locais para seu armazenamento assim como recrutamento de activistas. Este trabalho foi dirigido por Rogério de Carvalho, membro do Comité Central do PCP a viver na clandestinidade na região de Lisboa e por Raimundo Narciso, estudante de engenharia do IST e teve a participação de António Pedro Ferreira, então tenente miliciano do Exército e estudante de Economia, do tenente do quadro permanente, C. B. colocado no Regimento de Paraquedistas em Tancos, Victor Almeida d' Eça, funcionário do ministério da Agricultura e outros. 

A organização teve um novo impulso em Janeiro de 1965 com a deslocação a Moscovo e a Cuba de Rogério de Carvalho e de Raimundo Narciso, que tinha passado à clandestinidade para participar na criação da organização que veio a ser a ARA, para frequentarem um curso militar.  

O levantamento da organização foi muito longo e plena de vicissitudes decorrentes das vagas repressivas do PIDE e das difíceis condições de luta na clandestinidade e também pela limitação de meios disponibilizados pela direcção interna do PCP, visto que a direcção central da linha política do PCP era a luta de massas.
Um golpe sério no início do levantamento da ARA foi a prisão de Rogério de Carvalho, quatro meses após ter regressado com Raimundo Narciso do estrangeiro, em Outubro de 1965. Foi preso em Lisboa no âmbito de uma grande vaga de prisões feita pela PIDE, com o consequente desmantelamento de muitas das organizações do PCP da região de Lisboa,  incluindo a prisão de vários activistas ligados ao levantamento da "organização das acções especiais" designação interna do que viria a ser a ARA, e que deixou Raimundo Narciso, cerca de uma ano na clandestinidade desligado da direcção do PCP. 

 A ARA, criada de acordo com as orientações do PCP tinha, no entanto, uma estrutura autónoma e muito compartimentada, dirigida, na fase operacional, a partir de 1970, por um Comando Central de três elementos Jaime Serra, da Comissão Executiva do CC do PCP, Francisco Miguel do CC do PCP, que após 22 anos de prisão política, quatro fugas das prisões e encontrando-se exilado em Paris, insistiu em regressar ao "interior" para participar na ARA e Raimundo Narciso.

Uma característica peculiar da ARA e rara neste tipo de organizações, noutros países, era o facto de repudiar o terrorismo tendo a preocupação de não atingir pessoas com as suas acções. De facto, apenas na acção contra a Escola Técnica da PIDE, em Sete Rios (Lisboa), em Novembro de 1970, houve uma morte, a de um jovem transeunte vitimado acidentalmente pela explosão, alta madrugada, da bomba colocada à porta da referida escola.

De 1964 a Outubro de 1970 esta organização até no nome era "clandestina". Era internamente designada por "organização das acções especiais" e externamente não existia. Ganhou nome em Outubro de 1970, numa das reuniões do comando central, que precedeu a sabotagem do Cunene.  Havia que escolher um nome a usar no primeiro comunicado a publicar após esta primeira operação. Na reunião seguinte, como sempre na minha casa clandestina, então em Alcabideche, no concelho de Cascais, propus três nomes tendo sido aprovado o primeiro, "Acção Revolucionária Armada".  


Sobre a ARA foram publicados dois livros, "As Explosões que Abalaram o Fascismo" de Jaime Serra  (140 pág. Editorial Avante 1999) e "A.R.A. - Acção Revolucionária Armada " de Raimundo Narciso (400 pág, Editorial D. Quixote, 2000)