domingo, 18 de junho de 2017

Destruição de helicópteros e aviões na BA Nº3, contra a guerra colonial

Na madrugada de 8 de Março de 1971 um comando da ARA desencadeou uma operação de grande envergadura contra a logística das guerras coloniais em Angola, Guiné Bissau e Moçambique, numa acção de luta contra o fascismo-colonialismo português e de solidariedade com os povos das colónias portuguesas em luta pela sua libertação.
O comando da ARA entrou na Base Aérea nº 3, pela porta de armas e teve direito a continência, num Volkswagen que Raimundo Narciso alugara uns dias antes, em Lisboa, na Rua Eifel, como quem vem de fim de semana (era um domingo) e vai ali, com o militar da casa, ao bar beber um copo. Sorrateiramente, guiados pelo Ângelo de Sousa, os três heróicos combatentes da ARA, dirigiram-se não ao bar mas ao hangar onde estacionavam as aeronaves e colocaram 20 cargas explosivas e incendiárias em outros tantos helicópteros e aviões de treino que enchiam o hangar.
Entraram com uma chave falsa cerca da meia noite. As explosões ocorreram três horas depois, quando já estavam de regresso em Lisboa. As explosões e cargas incendiárias potenciadas pela gasolina das aeronaves provocou um devastador incêndio de tal ordem que, segundo a imprensa, a Base Aérea teve de chamar bombeiros dos outros quartéis do polígono militar de Tancos e de Santa Margarida e ainda de Tomar, Abrantes, Torres Novas, Entroncamento e Santarém. Segundo relatório secreto interno o incêndio deflagrou às 3h e 20 m e foi extinto às 6 h da manhã. 

O Comando era constituído por Ângelo de Sousa, cabo miliciano, piloto de helicópteros, da própria BA3, em Tancos,  Carlos Coutinho escritor e arquivista no jornal O Século, fardado de alferes da Força Aérea e António João Eusébio, pintor da construção civil, fardado de soldado da Força Aérea.
Não houve vítimas, nem mortes nem feridos. Foi uma acção planeada, como sempre, para não causar vítimas pessoais.
No dia 23/03/1971, a PIDE fez publicar na TV e nos jornais uma nota oficiosa com a foto de Ângelo de Sousa para tentar capturá-lo. Não conseguiu. Hoje posso dizer que o tínhamos escondido num apartamento da torre do cruzamento das avenidas de Roma e dos EUA, na imagem.


Fac-símile do relatório secreto da Secretaria de Estado da Aeronáutica, de 1971, consultado por Raimundo Narciso, na Torre do Tombo, em 1999:

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