quinta-feira, 15 de junho de 2017

A ORIGEM DA ARA

A Acção revolucionária Armada - ARA surgiu publicamente, em Outubro de 1970, com a publicação de um comunicado em que reivindicava a sua primeira acção armada, em 26 deste mês, contra o navio Cunene, o mais moderno navio de transporte utilizado na logística das guerras coloniais de Portugal em Angola, Moçambique e Guiné (Bissau,) e suspendeu a luta armada em 1 de Maio de 1973. 

A Acção Revolucionária Armada - ARA - foi criada pelo Partido Comunista Português com o objectivo de lutar contra as guerras coloniais desencadeadas por Portugal e impulsionar a luta pelo derrubamento da ditadura fascista portuguesa implantada em 1926. 

O levantamento da organização iniciou-se em 1964, com acções de carácter logístico, recolha de explosivos, armas e locais para seu armazenamento assim como recrutamento de activistas. Este trabalho foi dirigido por Rogério de Carvalho, membro do Comité Central do PCP a viver na clandestinidade na região de Lisboa e por Raimundo Narciso, estudante de engenharia do IST e teve a participação de António Pedro Ferreira, então tenente miliciano do Exército e estudante de Economia, do tenente do quadro permanente, C. B. colocado no Regimento de Paraquedistas em Tancos, Victor Almeida d' Eça, funcionário do ministério da Agricultura e outros. 

A organização teve um novo impulso em Janeiro de 1965 com a deslocação a Moscovo e a Cuba de Rogério de Carvalho e de Raimundo Narciso, que tinha passado à clandestinidade para participar na criação da organização que veio a ser a ARA, para frequentarem um curso militar.  

O levantamento da organização foi muito longo e plena de vicissitudes decorrentes das vagas repressivas do PIDE e das difíceis condições de luta na clandestinidade e também pela limitação de meios disponibilizados pela direcção interna do PCP, visto que a direcção central da linha política do PCP era a luta de massas.
Um golpe sério no início do levantamento da ARA foi a prisão de Rogério de Carvalho, quatro meses após ter regressado com Raimundo Narciso do estrangeiro, em Outubro de 1965. Foi preso em Lisboa no âmbito de uma grande vaga de prisões feita pela PIDE, com o consequente desmantelamento de muitas das organizações do PCP da região de Lisboa,  incluindo a prisão de vários activistas ligados ao levantamento da "organização das acções especiais" designação interna do que viria a ser a ARA, e que deixou Raimundo Narciso, cerca de uma ano na clandestinidade desligado da direcção do PCP. 

 A ARA, criada de acordo com as orientações do PCP tinha, no entanto, uma estrutura autónoma e muito compartimentada, dirigida, na fase operacional, a partir de 1970, por um Comando Central de três elementos Jaime Serra, da Comissão Executiva do CC do PCP, Francisco Miguel do CC do PCP, que após 22 anos de prisão política, quatro fugas das prisões e encontrando-se exilado em Paris, insistiu em regressar ao "interior" para participar na ARA e Raimundo Narciso.

Uma característica peculiar da ARA e rara neste tipo de organizações, noutros países, era o facto de repudiar o terrorismo tendo a preocupação de não atingir pessoas com as suas acções. De facto, apenas na acção contra a Escola Técnica da PIDE, em Sete Rios (Lisboa), em Novembro de 1970, houve uma morte, a de um jovem transeunte vitimado acidentalmente pela explosão, alta madrugada, da bomba colocada à porta da referida escola.

De 1964 a Outubro de 1970 esta organização até no nome era "clandestina". Era internamente designada por "organização das acções especiais" e externamente não existia. Ganhou nome em Outubro de 1970, numa das reuniões do comando central, que precedeu a sabotagem do Cunene.  Havia que escolher um nome a usar no primeiro comunicado a publicar após esta primeira operação. Na reunião seguinte, como sempre na minha casa clandestina, então em Alcabideche, no concelho de Cascais, propus três nomes tendo sido aprovado o primeiro, "Acção Revolucionária Armada".  


Sobre a ARA foram publicados dois livros, "As Explosões que Abalaram o Fascismo" de Jaime Serra  (140 pág. Editorial Avante 1999) e "A.R.A. - Acção Revolucionária Armada " de Raimundo Narciso (400 pág, Editorial D. Quixote, 2000)

2 comentários:

  1. Para ser anti fascista era preciso muita coragem Mas para ser membro do PARTIDO e especialmente DA ARA ESSA CORAGEM NÃO TINHA LIMITES
    Os seus membros sabiam que se fossem presos Só não seriam mortos pela PIDE se esta o não conseguisse fazer

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  2. Eu estava em Tancos no serviço militar. Tinha acabado de tirar a especialidade de PA foi um daqueles sustos. Muitos fugiram em cuecas até à Barquinha.

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